Será? Vamos analizar a notícia que saíu em vários veículos de mídia no Brasil e no mundo.
As sucuris são serpentes da Ordem Squamata, Família Boidae, do Gênero Eunectes, tendo sido catalogadas quatro espécies diferentes até antes da descoberta mais recente relatada em artigo submetido na revista especializada Diversity publicada em fevereiro de 2024.
Entre as 4 sucuris conhecidas, tinha-se indentificado e se dava como certa, a existência de apenas uma espécie de sucuri-verde na natureza, a Eunectes murinus. Entretanto a ciência sempre nos revela grandes surpresas. Uma nova sucuri-verde foi encontrada na amazônia e a descoberta é impressionante.
Trata-se de uma sucuri-verde gigante que recebeu o nome científico de Eunectes akayima. A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores entre eles Bryan G. Fry, do Departamento de Toxicologia da Escola de Meio Ambiente, da Universidade de Queensland, na Austrália em colaboração com uma equipe de filmagem da National Geofrafhic.
A expedição científica aconteceu em 2022 na região de Bameno, no território indígena Baihuaeri Waorani, na Amazônia equatoriana a convite do líder Waorani Penti Baihua. Os Indígenas levaram a equipe de cientistas para a selva numa expedição de dez dias para capiturar espécimes e coletar amostras de sangue e tecido para exames de laboratório e outras observações in situ.
Segundo os pesquisadores, após análises rigorosas, os resultados revelaram que as duas espécies possivelmente divergiram evolutivamente há cerca de 10 milhões de anos. Embora muito parecidas, na verdade praticamente idênticas anatômica e morfologicamente, as duas sucuris apresentam uma diferença de 5,5% em seus DNAs, o que é realmente incrível. Não há nenhuma barreira geográfica óbvia que as separe e que pudesse justificar uma especiação tão diferente geneticamente.
Para fins de comparação é bom lembrar que, a diferença genética entre humanos e macacos é de cerca de 2% apenas.
Além disso, os estudos indicaram que as duas espécies vivem em locais diferentes, a Eunectes murinus, a espécie já largamente conhecida é encontrada mais ao sul da amazônia e habita as florestas equatoriais do Peru, Brasil, Bolívia e Guiana Francesa. A Eunectes akayima, identificada recentemente vive mais ao norte sendo encontrada na Colômbia, Venezuela, Equador, Trinidad, Guiana e Suriname.
A alimentação das sucuris inclui vertebrados aquáticos e terrestres, como peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos dos mais diversos tamanhos. Elas são predadoras do topo da cadeia alimentar e matam suas presas por constrição, através da ação da força descomunal dos seus músculos, ao se enroscar em suas vítimas, realizando um aperto fatal. A morte ocorre por asfixia ou choque cardiorespiratório.
As sucuris estudadas são de cor verde oliva com grandes manchas pretas, o que permite que elas se misturem facilmente ao seu ambiente natural, uma estratégia de defesa contra posssíveis predadores.
As sucuris não são venenosas. Em particular as sucuris-verdes são consideradas uma das maiores serpentes do mundo, com massa corporal que pode chegar a 200 quilos ou mais e um comprimendo de até 7 metros segundo possibilidades relatadas pelo autor do estudo. As fêmeas são geralmente maiores que os machos. Existem relatos de nativos da região da amazônia equatoriana, não comprovados por aferição métrica, da possível existência de exemplares de mais de 7 metros, até de 8 metros. Mito ou verdade? A ciência busca respostas.
Entretanto medições científicas dão conta de uma grande sucuri medindo 5,21 m até então, oficialmente a maior do mundo. Recentemente uma sucuri conhecida popularmente pelo nome de Vovozona, avistada em Mato Grosso do Sul, segundo estimativas de alguns biólogos, pode ter mais de 6 m, mas os dados precisam ser confirmados.
É bom ressaltar que os maiores exemplares de cobras do mundo reconhecidos pela ciência são provenientes de pesquisas arqueológicas. Registros fósseis encontrados na Colômbia em 2007, evidenciaram que a Titanoboa cerrejonensis, podia chegar a 14 metros. Esse colosso teria vivido há cerca de 58 a 60 M.a no Paleoceno.
Mas pesquisadores indianos encontraram em 2005, no oeste daquele país, vestígios pré históricos de uma cobra que pode ter sido maior que a Titanoboa. Trata-se de uma espécie batizada pelo nome científico de Vasuki indicus que teria vivido há aproximadamente 47 milhões de anos durante o Eoceno. O estudo foi publicado na Scientific Reports e na Nature em 18/04/2024 . Os dados analisados sugerem que este animal podia chegar presumivelmente a 15 metros o que ainda precisa ser confirmado.
O relato da descoberta da E. akayima, foi publicado por Bryan também na revista acadêmica australiana The Conversation. Segundo Bryan, “as anacondas são altamente sensíveis às mudanças ambientais. Populações saudáveis de anacondas indicam ecossistemas vibrantes, com amplos recursos alimentares e água limpa”.
O pesquisador ressalta ainda que devido ao fato de que cada uma das espécies de sucuri-verde ter nichos ecológicos e áreas de distribuição diferentes elas podem enfrentar ameaças diferentes.
“Estratégias de conservação personalizadas devem ser elaboradas para proteger o futuro de ambas as espécies. Isso pode incluir novas proteções legais e iniciativas para proteger o habitat”, revelou Bryan em seu relato publicado na revista acadêmica australiana The Conversation.
Atualizando as espécies conhecidas, incluindo a recém descoberta, fica assim a lista das sucuris já catalogadas:
1. Sucuri-verde do sul (Eunectes murinus): No Brasil, é encontrada em diversos estados, principalmente na Amazônia e Centro Oeste.
2. Sucuri-verde do norte (Eunectes akayima): é a mais recente descoberta científica sobre as sucuris verdes. É encontrada no Equador, Colômbia, Venezuela, Trinidad, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
3. Sucuri-malhada (Eunectes deschauenseei): encontrada na Ilha de Marajó e em diversas outras regiões do Pará e do Amapá.
4. Sucuri-amarela (Eunectes notaeus): também conhecida como sucuri-do-pantanal, pode ser vista principalmente nas áreas alagadas desse bioma.
5. Sucuri-de-beni (Eunectes beniensis): é a única das sucuris que nunca foi identificada no Brasil, sendo característica da Bolívia.
As sucuris possuem hábitos semiaquáticos, deslocam-se com facilidade pela água e são normalmente avistadas em regiões de rios, brejos e pântanos. As ações humanas são a maior ameaça para as sucuris. São consideradas as maiores cobras da América do Sul.
As estratégias de conservação para as sucuris-verdes devem agora ser reavaliadas, para ajudar cada espécie única a lidar com as ameaças ambientais ao seu habitat.
Os problemas ambientais na amazônia envolvem o garimpo, a caça e a pesca predadória, a exploração de petróleo, a expansão de fronteiras pelo agronegócio, o desmatamento, a fragmentação dos habitats, as queimadas, a expansão habitacional humana e as mudanças climáticas.
As complexidades envolvidas na conservação da biodiversidade são inúmeras. As espécies não conhecidas podem não ser contempladas pelos programas de conservação como deveriam ser. Isso pode afetar outras espécies conhecidas e desconhecidas. A taxonomia genética proporciona um melhor planejamento, permitindo medidas mais acertivas para preservar melhor a intrincada teia da vida da Terra ainda relativamente desconhecida em sua totalidade, apesar dos esforços da ciência.
A Eunectes akayima, a sucuri-verde do norte tem uma área de distribuição muito menor do que a E. murinus, a do sul da amazônia, o que implica que ela é muito mais vulnerável ecologicamente. Os dados apontadas para a E. akayima devem ser agora confimadas ou refutadas por outros pesquisadores que venham a revisar o trabalho do cientista que a estudou.
Bibliografia
FRY, Bryan G. Descoberta de nova espécie de cobra gigante na Amazônia surpreende cientistas. The Conversation [S.I]. Queensland, Austrália, Fevereiro 2024. Disponível em: https://theconversation.com/descoberta-de-nova-especie-de-cobra-gigante-na-amazonia-surpreende-cientistas-223958. Acesso em 07/05/2024 às 14:50 h.
RIVAS, Jesús A. et al. Desembaraçando as Anacondas: Revelando uma Nova Espécie Verde e Repensando as Amarelas. Diversity [S.I]. Basileia, Suiça,Fevereiro 2024. Disponível em https://www.mdpi.com/1424-2818/16/2/127. Acesso em 07/05/2024 às 17:50 h.
* Encontrou algum equívoco? Reporte-nos! *
Obrigado por me participar Jefferson, já copiei para amigos Biólogos.
Conhecimento é tudo parabéns pela matéria!