Cleptoplastia é o termo utilizado para nomear um fenômeno simbiótico interessante e raro onde os cloroplastos de várias algas são sequestrados e incorporados por organismos hospedeiros. Determinados animais marinhos, ao se alimentarem de algas mantém intactos os plastídeos, que retêm a função da fotossíntese em seu interior.
Um exemplo é a Elysia chlorotica, uma pequena lesma do mar, de cor verde, que ao se alimentar de algas da espécie Vaucheria litorea, mantém os cloroplastos das mesmas em seu organismo funcionando durante certo tempo. Posteriormente o plastídeo também seria digerido. Este processo essencialmente transforma esse animais em moluscos movidos a energia solar!
A espécie foi descrita por Augustus Addison Gould em 1870. Habita principalmente a costa leste da América do Norte, entre a Nova Escócia e a Flórida.
Os adultos de Elysia chlorotica são geralmente de cor verde brilhante, devido ao seu hibridismo, mas podem ser avermelhados ou de cor acinzentada, dependendo da quantidade de clorofila no tubo digestivo, que se ramifica por todo o seu corpo.
Os indivíduos juvenis possuem uma coloração marrom com manchas vermelhas. Quando começam a ingerir algas, eles ficam verdes. A aquisição dos cloroplastos por meio da alimentação ocorre logo após a metamorfose.
A lesma firma o alimento em sua boca e suga seu conteúdo. Porém ela mantém os cloroplastos ilesos, armazenando-os dentro de suas próprias células ao longo de seu extenso sistema digestivo.
Elysia chlorotica, é capaz de se alimentar de algas por duas semanas. Após isso ela consegue sobreviver então o resto de sua vida que dura cerca de um ano apenas com os produtos da fotossíntese.
A lesma do mar, E. chlorotica, se pareçe com uma folha, provavelmente em função de uma adaptação, uma evolução convergente que possibilitou uma maior área corporal permitindo captar a luz solar com maior eficiência.
O processo fotossintético envolve diversas proteínas, bem como a presença dos genes necessários para codificá-las. As plantas, as algas e algumas bactérias são os organismos que naturalmente possuem o aparato fisiológico necessário para essa atividade.
Aparentemente os primeiros estudos e observações indicavam que o funcionamento dos cloroplastos no organismo de algumas espécies de lesmas do mar era temporário.
Entretanto, uma equipe liderada por Mary Rumpho da Universidade do Maine publicou um estudo indicando que a lesma verde também “roubou” o gene das algas com as quais se alimenta. De alguma forma, em algum ponto de sua evolução, os genes pularam das algas para o DNA dos moluscos, permitindo que os cloroplastos realizem a fotossíntese nesses animais.
Os genes incorporados ao próprio DNA da lesma do mar, permitem que o animal produza as proteínas necessárias para que os cloroplastos roubados continuem funcionando ininterruptamente.
Em outro estudo os pesquisadores encontraram o gene das algas nas células sexuais de E. chlorotica, o que significa que a capacidade de manter os cloroplastos funcionais poderia ser passada para a próxima geração.
Quando adultos os indivíduos de Elysia chlorotica são hermafroditas simultâneos. Ao atingirem a maturidade sexual, cada animal produz esperma e óvulos ao mesmo tempo. Mas a auto-fecundação não é comum a esta espécie. A Elysia chlorotica copula transversalmente. A fertilização é interna. Os ovos fertilizados são dispostos seguidamente formando longos cordões.
Alguns moluscos Sacoglossas da Classe Gastropoda como aqueles da espécie Costasiella kuroshimae, também são lesmas do mar que constituem exemplos desta associação simbiótica entre animais e cloroplastos.
Alguns sacoglossanos simplesmente digerem a seiva que sugam das algas, mas em algumas espécies as lesmas sequestram e utilizam dentro de seus próprios tecidos cloroplastos vivos das algas com que eles se alimentam, caracterizando também este fenômeno singular e incomum conhecido como cleptoplastia.
O autor: Jefferson Alvarenga é Biólogo, Pós Graduado em Gestão da Saúde Ambiental.
Bibliografia
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Disponível em: https://bitlybr.com/zrCuJ. Acesso em 18/07/2019 às 18:55 h.
MORI, Kentaro. “Vivendo de luz”: um animal que faz fotossíntese? 100Nexos, [S.I]. ScieceBlogs, 2008.
Disponível em: https://bitlybr.com/rfh2i. Acesso 18/07/2019 às 20:00 h.
Foto 1: Costasiella_Kuroshimae – wikipedia.org
Disponível em: https://bitlybr.com/z3tVr
Foto 2: Elysia chlorotica – Creditos: Patrick Krug Cataloging Diversity in the Sacoglossa LifeDesk | by EOL.
Disponível em: https://bitlybr.com/p94YU
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