Há milhares de anos atrás, em meio a eventos de mudanças paleoclimáticas, populações pré-históricas, habitando um dos últimos locais da Terra colonizado por humanos, deixaram vestígios intrigantes, que podem revelar como os povos primitivos enfrentaram alterações ambientais severas e comunicaram isso para outras gerações.
Em recente artigo publicado no último dia 14/02/2024, na Revista Science Advances, pesquisadores relataram terem encontrado, em uma caverna denominada Cueva Huenul 1, no noroeste da Patagônia, na Argentina, aquilo que seriam os desenhos rupestres mais antigos feitos com pigmentos na América do Sul, datados de 8,2 mil anos atrás.
Os achados, descobertos por pesquisadores do Conselho Nacional de Pesquisas da Argentina CONICET e do Instituto Nacional de Antropologia e Pensamento Latino-Americano, em Buenos Aires, foram datados através da técnica de radiocarbono em amostras de pigmentos de origem orgânica.
A autora do estudo, a Arqueóloga Guadalupe Romero Villanueva se revelou surpresa com a idade das pinturas. “Tivemos que repensar algumas coisas.” “É incrível a quantidade de arte em rocha que encontramos” “Nos arredores há vários lugares com arte em rocha, mas nenhum deles tem a quantidade de diversidade de formatos e cores vista aqui”, disse a autora principal do artigo ao portal Live Science.
A arte rupestre encontrada em uma das galerias do interior da caverna remonta ao final do Holoceno. Foram encontradas 895 pinturas, agrupadas em 446 motivos.
É ainda inconclusiva a questão sobre quais culturas humanas criaram as imagens que decoram a caverna e sob quais reais motivações em sua totalidade.
Mas as observações e análises feitas sugerem que podem ter sido uma maneira que os artistas que as retrataram usaram para passar informações entre as pessoas das populações que habitavam aquele local, para outras comunidades da região e para as próximas gerações.
Não está claro se os desenhos se refiram a qualquer manifestação relativa a ritual ou reunião daqueles grupamentos humanos do passado, mas os cientistas postulam que podem ter se constituído em redes sociais entre grupos dispersos que os permitiram se conectar para troca de mensagens que os tornaram mais resilientes diante de eventos ecológicos críticos.
Naqueles tempos os ambientes da região eram muito secos, com enorme escassez de água e as condições inóspitas e imprevisíveis demandaram alguma forma de comunicação além da verbalização oral para facilitar a sobrevivência.
“É muito difícil datar a arte rupestre a menos que tenha um componente orgânico”, disse o coautor do estudo Ramiro Barberena, arqueólogo da Universidade Católica de Temuco, no Chile, e também do CONICET.
As pinturas revelam tons de vermelho branco amarelo e preto. O pigmento preto possivelmente foi obtido de madeira carbonizada e os arqueólogos usaram fragmentos obtidos desta tinta para determinar a idade das pinturas.
A arte rupestre encontrada consiste na sua grande maioria em desenhos abstratos, apresentando formas geométricas com pontos, círculos e linhas. Existem também desenhos mais complexos mostrando linhas paralelas, polígonos e elementos cruciformes.
Curiosas formas similares a pentes, apresentando várias linhas paralelas verticais ligadas a uma linha horizontal perpendicular chamaram em especial a atenção dos pesquisadores.
Segundo os cientistas, os afrescos foram repintados várias vezes nos 3000 anos que se seguiram ao tempo de sua origem e abrangeram aproximadamente 130 gerações humanas, sugerindo uma possível intenção de perpetuar informações importantes.
A arte encontrada não é a mais antiga do mundo. O registro rupestre mais antigo de todos é o desenho de um porco encontrado na parede de uma caverna na Indonésia datado de mais de 45 mil anos atrás.
A patagônia é uma região do extremo sul da América latina. O sítio arqueológico Cueva Huenul 1 está localizado a 1000 m acima do nível do mar, a 36°S a leste dos Andes dentro da chamada Diagonal Árida, uma importante região climática e biogeográfica que abrange a maior parte das terras secas da América do Sul.
Bibliografia
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