Árvores com incríveis 60 a 80 metros de altura, verdadeiras gigantes do reino vegetal existem no Brasil? A resposta é sim e podem ser encontradas na floresta tropical da Amazônia brasileira.
Algo realmente espetacular, que tem chamado a atenção de diversos pesquisadores.
É de conhecimento corrente que as representantes mais altas das comunidades arbóreas do mundo são as famosas sequoias vermelhas da Califórnia, que podem atingir monumentais 115 metros.
Segundo artigo publicado pela Resvista Pesquisa FAPESP, no caso dos espécimes encontrados no Brasil, estamos falando da Dinizia excelsa, nome científico do angelim-vermelho, uma gigante que habita o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá.
Os ambientes de clima temperado, com poucas oscilações de condições quentes e frias proporcionam a formação de uma névoa úmida que permite que determinadas espécies vegetais se hidratem adicionalmente através das folhas e ramos, diminuindo sua dependência da água do solo.
Isso reduz sobremaneira o estresse hídrico na temporada de seca, permitindo seu desenvolvimento em altura de forma significativa.
É o que acontece com as sequoias da Califórnia e outras grandes árvores encontradas em outras poucas regiões do mundo.
É sabido que a Amazônia é uma floresta super úmida. Ventos provenientes do oceano atlântico, inclusive trazendo partículas e nutrientes do Deserto do Saara na África, trazem correntes atmosféricas, que juntamente com a transpiração natural da floresta e a evaporação das grandes massas de água existentes na maior bacia hidrográfica do mundo contribuem para esse fator.
Entretanto as altas temperaturas das florestas equatoriais como a Amazônia, seriam fatores limitantes para o crescimento em grande altura por causa das elevadas taxas de perda de carbono em decorrência da respiração mais intensa que se verifica nessas regiões.
Esse paradigma parece estar sendo desafiado pelo angelim-vermelho do Amapá. Especialistas têm se desdobrado para entender esses novos achados.
São necessários projetos de pesquisa de longo prazo, cobrindo grandes áreas, com monitoramento mês a mês, avaliando as condições meteorológicas de temperatura, umidade, pressão atmosférica, direção e velocidade do vento, luminosidade e precipitação pluviométrica, além das características físico-químicas do solo, para se conhecer aspectos da fisiologia destas árvores e inferir sobre o que proporciona seu crescimento incomum.
Em Tumucumaque a biomassa da floresta ultrapassa os valores verificados em outras florestas neotropicais, inclusive na própria Amazônia, onde no geral o dossel, chega normalmente a 20 metros de altura, com estaturas máximas de 40 metros.
O que poderia parecer exceção na verdade não é o que se poderia esperar, segundo constatou o pesquisador Paulo Bittencourt, Biólogo da Universidade de Exeter do Reino Unido. Existem muitas árvores gigantes no Parque Tumucumaque.
Bittencourt integrou uma expedição, parte das atividades de um projeto destinado a entender as reações fisiológicas da floresta equatorial brasileira às mudanças climáticas liderado pela ecóloga britânica Lucy Rowland.
A equipe foi acompanhada pelo gestor do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, o Engenheiro Florestal Christoph Jaster. Foram utilizados drones para sobrevoar acima das copas a fim de evidenciar indivíduos destacados mais altos que o normal das árvores naquela região.
A Botânica Rafaela Forzza, em 2016, então vinculada ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi quem chamou a atenção de Jaster para a enormidade das árvores.
Outras árvores gigantes dos neotrópicos já tinham sido encontradas, anos antes, por volta do ano de 2000, na Malásia e em Bornéu. Entre as espécies gigantes de Bornéu, foi encontrado um indivíduo da espécie Shorea faguetiana, com 100 metros de altura, mas com diâmetro do tronco menor, geralmente com no máximo 1,50 metros.
Mais árvores grandes são comuns no Parque Tumucumaque, como o piquiá (Caryocar villosum), a maçaranduba (Manilkara huberi) e a tauari (Couratari guyanensis), entretanto, a maioria quase nunca chega a alturas superiores a 60 metros.
Em um outro projeto de pesquisa, o AmazonFACE, desenvolvido na Amazônia, foi constatado que as árvores normalmente não passam de 30 metros de altura e 70 cm de diâmetro. As gigantes do Tumucumaque ultrapassam facilmente a altura de 70 metros e chegam 2,50 metros de diâmetro.
É estimado que a biomassa do Amapá seja potencialmente a de maior densidade verificada nos trópicos, sendo que os fatores associados ao gigantismo parecem ser as condições climáticas mais estáveis verificadas na região do parque, com temperaturas médias em torno de 23 ºC, podendo variar até 26 ºC e chuvas com índices acima de 2300 mm, protegidas de vento forte e com pouca incidência de raios.
Dados obtidos com tecnologia óptica com detecção de luz e medida de distância, dão conta de que o escudo das guianas possui as florestas que armazenam a maior biomassa em toneladas por hectare, sendo portanto, as campeãs em sequestro e estoque de carbono.
Ainda dentre mais de 100 mil árvores analisadas na Amazônia, resultados indicam que o Amapá contém a maior diversidade de espécies arbóreas apresentando gigantismo.
Angelins-vermelhos gigantes são encontrados também no Pará no Parque Estadual do Paru, conforme noticiado em reportagem da Agência Pará.
Referências Bibliográficas
CHAVES, Leo Ramos. Pesquisadores investigam os mistérios das árvores gigantes da Amazônia. Revista Pesquisa FAPESP. São Paulo, 05 de Fevereiro de 2024. Disponível em:https://revistapesquisa.fapesp.br/pesquisadores-investigam-os-misterios-das-arvores-gigantes-da-amazonia/. Acesso em 10/02/2024.
GAMA, Aldirene. Com 88,5 m de altura, arvore gigante da Amazônia é encontrada no oeste do Pará. Agência Pará. Pará, 21 de Dezembro de 2022. Disponível em: https://agenciapara.com.br/noticia/40297/com-885-m-de-altura-arvore-gigante-da-amazonia-e-encontrada-no-oeste-do-para. Acesso em: 10/02/2024.
Imagem da Capa: Angelim-Vermelho na Floresta Estadual do Paru, Pará. Por: Agência Pará.
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