O descanso e o sono são duas questões realmente intrigantes que a ciência busca elucidar quando estuda o comportamento das aves, especialmente as aves migratórias.
O número de aves que migram todos os anos é incrivelmente fabuloso. Esse comportamento acontece em razão de vários motivos, como por exemplo, a busca por locais de acasalamento, clima mais ameno, condições mais favoráveis de alimentação, entre outros.
A migração envolve um significativo ganho adaptativo e pode representar uma maior resistência a uma possível extinção para inúmeras espécies de aves em relação aquelas que são mais sedentárias.
Entretanto existem muitos riscos durante a migração, riscos que não existem duarante os períodos estacionários ou que não afetam as aves residentes.
Muitas vezes a viagem migratória das aves é extremamente longa e fatigante, inclusive ocorrendo sobre as vastidões dos oceanos, onde elas percorrem longas e extenuantes distâncias sem ter um local para pousar e descansar.
“A migração é o estágio que mais consome energia no ciclo de vida dessas aves e pode custar até 50% do balanço energético anual de um indivíduo”, (Drent & Piersma, 1990 apud Sará, 2022.)
Inanição, depleção de energia, predação por outras espécies, desidratação, ventos contrários, tempestades, estão entre as adversidades enfrentadas pelas aves que se mudam temporariamente para outras regiões.
Acontece que as aves utilizam diversas estratégias durante sua jornada migratória até chegarem ao seu destino.
Um dos artifícios é a obtenção antecipada de reservas energéticas para a viagem. Preparação faz parte do comprotamento das aves que migram para locais distantes do seu habitat principal.
Uma outro recurso é aproveitar a velocidade, a direção e a convecção dos ventos para pairar e descansar as asas enquanto voam, usando também as diversas camadas de ar que se movimentam na atmosfera, para ajustar sua trajetória a fim de otimizar sua viagem, permitindo que percorram enormes distâncias sem parar.
Mas um fato curioso chamou a tenção de pesquisadores em uma expedição oceanográfica no Mar mediterrâneo onde foram observadas aves usando navios como local de pouso durante sua jornada.
O tempo de parada das aves variou de 42 minutos até pernoites a bordo, conforme as condições do vento se mostravam desfavoráveis para o prosseguimento de sua viagem. Pelo menos cerca de 3 de cada 13 espécies de aves que migram naquela região foram registradas nesses eventos de escala em navios.
Essa condição certamente representa um comportamento moderno das aves migratórias em seus longos deslocamentos sobre os oceanos do mundo todo.
As observações dos cientistas foram descritas em um artigo publicado no International Journal Of Avian Science, em julho de 2022.
Mas e o sono? As aves que voam por longas distâncias sem parar dormem? Como isso aconteceria em plena atividade de deslocamento pelos ares?
Em um estudo, publicado pela Revista Nature em agosto de 2016, os autores relatam que a ciência assume que as aves que viajam por longo período sem pousar mantêm a percepção ambiental do seu entorno e o controle aerodinâmico do voo mesmo dormindo, mas com um estágio do crérebro de cada vez.
Ainda sobre o sono, eles usaram gravações de eletroencefalograma em fragatas, durante o seu voo de 10 dias sobre o oceano, apara determinar que elas conseguem dormir usando um hemisfério cerebral de cada vez ou os dois ao mesmo tempo. Existem ainda, hipóteses a serem confirmadas, de que muitas aves abdicam totalmete do sono durante o voo.
Adicionalmente os cientistas verficaram que as aves estudadas, dormem em voo, muito menos tempo do que quando estão em terra, indicando que a atenção que precisam durante o voo, excede a atenção proporcionada pelo sono usando apenas uma das partes do cérebro.
SARÀ, Maurizio et al. Welcome aboard: are birds migrating across the Mediterranean Sea using ships as stopovers during adverse weather conditions? International Journal Of avian Science – Wiley [S.I]. New Jersey, EUA, Julho de 2022. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ibi.13103. Acesso em 16/12/2024 às 10:00 h.
RATTENBORG, Niels C. et al. Evidence that birds sleep in mid-flight. Revista Nature [S.I]. Alemanha, Agosto de 2016. Disponível em: https://www.nature.com/articles/ncomms12468. Acesso em 16/12/2024 às 14:00 h.
Imagem da Capa – Foto de Engin Akyurt – pexels.com. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/gaivotas-subindo-no-ceu-1435849/
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