A idéia surgiu em 2007 no início do curso de Doutorado da cientista Maria João Ramos Pereira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Durante o curso ela percebeu que as pesquisas com morcegos até então realizadas apresentavam um lapso de conhecimento sobre a capacidade de ECOLOCALIZAÇÃO por ultrasson desses mamíferos no Brasil e nas américas central e do sul.
Os morcegos são mamíferos, a maior parte carnívoros insetivoros, porém apresentam espécies frugíveras e nectarivoras. Eles evoluíram capacidades adaptadas para localização por sons de alta frequência em suas atividades no meio ambiente.
Ao longo dos trabalhos desenvolvidos em vários locais do território brasileiro, os sons de alta frequência de 65 espécies de morcegos foram reunidos, compilados e analisados por pesquisadores de quatro universidades brasileiras, além da UFRGS, entre elas a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade de Brasília.
Os animais estudados englobaram 8 das 9 espécies de morcegos existentes em nosso país e a pesquisa foi relatada em um artigo publicado na revista científica Mammal Research.
O trabalho vai permitir que seja criado um arquivo em mídia eletrônica desses sons, algo como uma “biblioteca” acústica, que servirá para que outros estudiosos a partir dos dados possam desenvolver outras pesquisas importantes.
Como ocorre a diversidade e distribuição desses animais nos biomas nacionais ? Qual o seu papel ecológico na prestação de serviços ambientais importantes como a polinização, a dispersão de sementes e o controle de populações de insetos? Como trabalhar a biologia da conservação deles?
Estes e muitos outros questionamentos poderão ser respondidos em função da análise dos resultados da pesquisa, que usou informações disponíveis em bases on line e de outros cientistas além dos próprios sons gravados com equipamentos de última geração.
A cegueira dos morcegos é um mito. Eles não são cegos e possuem como os humanos uma visão pouco adaptada ao escuro. Entretanto, bilhões de anos de evolução os levaram a desenvolver uma capacidade de “enxergar” na ausência de luz diferente de outros mamíferos.
Como muitos outros animais eles possuem hábitos alimentares noturnos, porém ao invés de evoluírem uma visão altamente acurada como os felinos por exemplo, eles desenvolveram então, a capacidade de se orientarem por sons de alta frequência para se localizarem no ambiente e para capturar suas presas.
Os morcegos conforme a espécie, conseguem emitir e ouvir sons na faixa de frequência de 10 kHz até 200 kHz. Esses sons somente são audíveis para os seres humanos se forem reproduzidos lentamente.
Vários parâmetros como frequência, duração e amplitude foram verificados e comparados através de programas específicos de computador, mostrando que cada espécie produz ondas sonoras que são únicas e particulares de cada uma.
Os dados da pesquisa ficarão arquivados na seção de ecolocalização da Sociedade Brasileira de Pesquisadores de Morcegos (SBEQ), de modo a poderem balizar e subsidiar outras pesquisas futuramente.
O trabaho com a BIOACÚSTICA permite, conhecer muito sobre a biologia e a ecologia de diversos organismos, servindo como uma das muitas estratégias utilizadas por biólogos para a compreensão dos inumeráveis seres vivos da natureza e o seu comportamento e importância nos ecossistemas.
Bibliografia
SILVEIRA, Evanildo da. Pesquisadores brasileiros criam ‘biblioteca’ de ultrassons de morcegos com 65 espécies do país. BBC News Brasil. São Paulo, 2018. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/geral-44690883, visualizado em 14/08/2018 às 18:00 hs.
* Encontrou algum equívoco? Reporte-nos! *