Bom, vamos lá para mais um dos dilemas da natureza. Muitas vezes a natureza é feita de contrastes, mas também de muitas semelhanças e coincidências. Desde já é bom ressaltar que semelhante não é igual.
Entre muitos organismos que apresentam semelhanças estão as cobras corais, que como as demais serpentes pertencem à classe REPTHILIA, ordem dos SQUAMATA.
No Brasil são reconhecidos popularmente como CORAIS todas as cobras que apresentam um padrão de anéis coloridos em torno do corpo podendo ser estes anéis contínuos,ou seja, completos ou incompletos.
Entretanto, são chamadas de cobras corais verdadeiras aquelas da família ELAPHIDAE, gênero MICRURUS todas peçonhentas capazes de causar um acidente ofídico de ordem neurotóxica grave.
As falsas corais compõem dois grupos. O grupo daquelas que não apresentam veneno, nem presas inoculadoras portanto não são peçonhentas, e o grupo daquelas que possuem veneno, com presas inoculadoras mas diferentes das corais verdadeiras, representando pouco risco de acidente ofídico.
Todas as cobras são predadoras e têm funções ecológicas importantes na regulação da densidade demográfica de vários outros organismos, que teriam suas populações aumentadas exponencialmente, se tornando pragas, casos elas não existissem.
As cobras corais verdadeiras e falsas possuem características morfológicas e de coloração muito semelhantes e que tornam difícil sua diferenciação.
Por isso é sempre bom ter cuidado ao se deparar com qualquer animal que pode ser peçonhento ou não, resguardando a devida distância e o respeito pelas suas reações que podem ser inesperadas diante de uma potencial ameaça à sua existência.
Apenas um especialista treinado consegue identificar com clareza, de forma correta e segura cada uma das espécies, diferenciando as corais verdadeiras das falsas corais. Formato da cauda, dos olhos e da cabeça são caracteres importantes. A coloração já requer mais conhecimento e experiência.
Uma das formas de identificação e diferenciação mais seguras entre uma e outra é feita através de uma CHAVE DICOTÔMICA, um sistema de classificação onde se faz uma opção por uma de duas alternativas possíveis para cada característica morfológica observada em sequência até uma conclusão final.
Todas as Corais tanto as falsas como as verdadeiras em geral, NÃO apresentam um órgão presente em muitas outras cobras peçonhentas, a FOSSETA LOREAL, orifícios caracterizados como órgão sensorial de estímulos de calor, em forma de depressão localizado em cada lado da cabeça entre as narinas e os olhos.
Todas as corais apresentam ainda corpo cilíndrico, cabeça curta, olhos com pupilas arredondadas e o padrão coralíneo de listras coloridas.
As listras coloridas obedecem a variados aspectos e sequência de cores podendo ser vermelho, preto e branco; vermelho preto e amarelo; preto e branco; preto amarelo e branco; preto e vermelho, totalmente pretos e outros tantos.
São todas elas cosmopolitas, habitantes de ambientes sombreados principalmente sob SERRAPILHEIRA, camada superficial de folhas e galhos mortos dos solos de florestas úmidas principalmente.
Mas uma característica em especial diferencia com segurança as corais verdadeiras das falsas corais. É o padrão de DENTIÇÃO observado em cada grupo.
Existem quatro padrões de dentição conhecidos em serpentes, padrões estes que definem alguns dos grupos mais conhecidos destes animais.
A dentição ÁGLIFA, ocorre em muitas falsas corais, se caracterizando por dentes curtos, sólidos, fixos sem apresentar presas inoculadoras de veneno.
A dentição OPISTÓGLIFA também presente em algumas falsas corais, se mostram com duas presas inoculadoras de veneno localizados no maxilar superior na sua parte posterior ou seja no fundo da boca.
A dentição PROTERÓGLIFA é característica apenas de CORAIS VERDADEIRAS, com veneno elapídico neurotóxico potente, com duas presas inoculadoras de veneno curtas e fixas na parte anterior do maxilar superior.
A dentição SOLENÓGLIFA é observada somente em cobras da família Viperidae dos gêneros Botrhops, Lachesis e Crotalus, onde os organismos contam com presas inoculadoras móveis sulcadas ou perfuradas para a condução do veneno das glândulas até o local da picada.
Uma outra forma ainda igualmente segura de caracterização é uma análise bioquímica do veneno ou uma abordagem molecular envolvendo DNA e comparação com padrões depositados em um banco de dados. Ambas obtidas somemte em laboratório.
Segundo a Agência Minas, no Brasil ocorrem 37 espécies de corais verdadeiras e 60 espécies de falsas corais. Em Minas gerais são conhecidas 5 espécies de corais verdadeiras e 4 espécies de corais falsas.
As corais verdadeiras não são agressivas. Quando acuadas ficam imóveis, achatando o corpo e esperando o momento do desfecho em função da aproximação do agente que considera uma ameaça.
A maioria das falsas corais foge diante da aproximação de uma ameaça, porém algumas possuem o comportamento das corais verdadeiras, de esperar para atacar se for o caso.
As corais verdadeiras apresentam APOSEMATISMIO, uma adaptação evolutiva de defesa, definida por coloração de advertência ou aviso, com tonalidades vivas, indicando perigo, característico de organismos tóxicos, não palatáveis ou de animais venenosos ou peçonhentos.
As falsas corais usam do artifício do MIMETISMO, ou seja, uma adaptação que imita o padrão de cores ou da morfologia de outro organismo, também como artifício de defesa, se assemelhando no caso à coral verdadeira.
Bibliografia
STORER, TRACI I. et al. Zoologia Geral. 6ª ed. São Paulo. Companhia Editora Nacional, 2007. 816 p.
TEIXEIRA, Vivian. Livro ilustrado ajuda a população a diferenciar as corais verdadeiras das falsas. Secretaria da Saúde de Minas gerais [S.I]. Belo Horizonte, Setembro de 2017. Disponível em: Livro ilustrado ajuda a população a diferenciar as corais verdadeiras das falsas | Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Acesso em 20/09/2017 às 15:00 h.
Agência Minas. Livro ilustrado da Funed ajuda a população a diferenciar as cobras corais verdadeiras das
falsas. Agência Minas [S.I]. Belo Horizonte, MG. Disponível em: https://www.agenciaminas.mg.gov.br/news/pdf/101910.pdf. Acesso em 20/09/2017 às 15:35 h.
* Encontrou algum equívoco? Reporte-nos! *