Ficamos sabendo do projeto da Arquiteta Urbanista Maione Amorim, através de um amigo, o Engenheiro Civil Carlos Pinto de Almeida. Ele nos falou entusiasmado sobre o assunto.
Fomos buscar informações e nos encantamos com a proposta dela para transformar o complexo geológico e paisagístico da Pedra Grande em Igarapé, Minas Gerais, em um parque ecológico.
O projeto da Arquiteta Maione integrou seu trabalho de conclusão de curso na Universidade de Itaúna, onde ela foi orientada pelo professor Lessandro Lessa Rodrigues. A proposta é muito interessante e resolvemos trazê-la ao conhecimento do público através do nosso site
O complexo da Pedra Grande está inserido na Serra de Itatiaia. A região ecológica faz parte do Quadrilátero Ferrífero sendo explorada pela atividade de extração do minério de ferro, uma das mais importantes e lucrativas commodities da nossa economia.
Geologicamente o Quadrilátero Ferrífero é composto por sequências paleoproterozóicas (Super Grupo Minas) com quatro serras mutuamente perpendiculares, enquanto as terras baixas que as sustentam são compostas principalmente por rochas arqueanas.
A Pedra Grande tem 1.434 metros de altitude e é o ponto culminante na Serra de Itatiaia uma estrutura do relevo que é prologamento da Serra Azul que por sua vez é continuidade da Serra do Curral.
O complexo geológico localiza-se na divisa dos municípios de Igarapé, Mateus Leme e Itatiaiuçu. A região, está inserida na Bacia do Rio Paraopeba e possui inúmeras cavidades naturais. Localiza-se a 8 km do centro de Igarapé. Do alto tem-se uma vista privilegiada da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Mas vamos ao que interessa nessa matéria, que é a proposição da Arquiteta Maione de transformar o local em um parque ecológico belíssimo e de grande relevância do ponto de vista cultural e preservacionista.
No início de sua exposição do projeto para o nosso Site, quisemos saber da Arquiteta o que a motivou a escolher a região paisagística da Pedra Grande como inspiração para o seu trabalho.
“Minha paixão pelos objetos arquitetônicos e o impacto deles na sociedade, seja macro ou micro, me inspiram desde sempre,” disse ela. “O que cativou a escolha da minha profissão.”
“Durante o curso fui compreendendo melhor como impactar positivamente o dia a dia da sociedade, e desde então surgiu uma grande apreciação pelos espaços e gentilezas urbanas. Espaços capazes de passar segurança, ofertar ricas experiências sensoriais, abrigar encontros, garantir saúde, proporcionar alegria e outros fatores tão enriquecedores.”
“Não é difícil garantir essa tipologia de espaço! Em todo município existe algo a ser valorizado, seja na utilização de um vazio urbano, seja na exploração consciente de uma linda paisagem, seja em uma via que pode valorizar o pedestre e não os veículos, seja um passeio acessível, seja em terrenos grandes ou em pequenos espaços, seja na ação de um governante a um pequeno ato no passeio do seu lar. Sempre, independente da escala, é possível agregar valor a qualidade de vida.”
“Toda essa paixão foi traduzida no meu projeto de conclusão de curso, “Complexo Ecológico da Pedra Grande”.”
Mas, e então vamos conhecer finalmente esse belíssimo projeto? Propusemos já de cara, ansiosos por entender toda a proposta da Arquiteta.
“Claro! Disse ela. Vamos lá, vou explicar tudinho! É muito legal!”
O PROJETO
“O Complexo está localizado na cidade de Igarapé que tem sua economia baseada na produção de hortifrutigranjeiros, exploração de recursos hídricos e atividades mineradoras (concentradas na Serra de Itatiaia). Além dessas atividades o Município se destaca pelo potencial sócio-econômico-cultural, ou seja, na exploração das belezas naturais, com inúmeras fontes d’água e trilhas ecológicas, incluindo o Conjunto Paisagístico Pedra Grande (também localizado próximo na Serra de Itatiaia), patrimônio tombado pelo decreto municipal nº 1.318, de 01 de outubro de 2018.”
“Baseando-se nesse potencial o Município tem investido e estimulado as atividades sócio-econômicas-culturais, uma delas é a culinária local que se tornou destaque através do festival anual, atualmente denominado Igarapé Sabor (IBGE 2018). Como resultado desse investimento o município recebeu em 2018 (Exercício 2019) a terceira melhor pontuação da Região Metropolitana de Belo Horizonte, na avaliação do IEPHA – MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais). A colocação implica no valor dos repasses estaduais destinados a atividades com esses fins.”
Nossa! Que bacana Maione! Intervimos. Conte mais! Estamos empolgados!
“Conforme citado no meu trabalho de conclusão de curso, continuou a arquiteta, atualmente o Município não explora os bens naturais voltados para o turismo. O Conjunto Paisagístico Pedra Grande em especial, é utilizado precariamente para práticas de caminhada, motocross, ciclismo e durante a Semana Santa religiosos realizam uma caminhada seguida de missa no topo da Pedra Grande. Estes usuários não se limitam aos Igarapeenses, mas também por moradores de toda a região metropolitana de Belo Horizonte. Apesar do número de usuários, o potencial eco turístico é pouco explorado, então, o meu projeto visa atrair, qualificar e conscientizar as atividades ecológicas desenvolvidas nessa área. Como a requalificação da trilha, além da implantação de equipamentos públicos e terceirizados destinados aos turistas.”
“Em 2016 foi realizado um estudo e elaborado o Plano de Manejo da APA (Área de proteção ambiental) de Igarapé, com a finalidade de proteger os mananciais do sistema Serra Azul, responsável por grande parte do abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). No mesmo documento descreve que a APA corresponde a 64% do território municipal, ou seja, apesar de o Plano ainda não estar aprovado é usado como parâmetro de referencia no zoneamento do município.”
“O “Complexo Ecológico da Pedra Grande” está introduzido na APA e conforme proposta do Plano de Manejo está inserido em três zoneamentos: Zona de Proteção, Zona de Turismo Sustentável e no Monumento da Pedra Grande.”
“A problemática local baseia-se no fato de que o zoneamento existente, apesar da grande importância no parâmetro ambiental, é incompatível com o uso. A legislação não permite que ações sejam feitas no local. A falta de infraestrutura gera insegurança aos usuários e a degradação ambiental gera um desequilíbrio ecológico. Fatores que se agravam devido a inexistência de órgão fiscalizador contínuo.”
Isso seria um problema para uma implantação futura do seu projeto, como isto poderia ser resolvido? Perguntamos.
“Analisando ainda mais a fundo identificamos que a Pedra Grande está inserida no município de Itatiaiuçu, entretanto, seu principal acesso se dá através de Igarapé. Ou seja, diante de tal situação a proposta inicial deste trabalho é a adequação da solução urbanística, onde os usos já existentes e a perspectiva de utilização dos espaços receberiam um parâmetro legislativo adequado, que garantiriam a disponibilização de instrumentos ativos e eficientes de preservação e utilização dos espaços.”
“A proposta inclui o remanejamento dos zoneamentos conforme sua real utilização, onde 100m para cada lado do perímetro da trilha e 50m na faixa superior da via passaria a ser “Zona de Turismo Sustentável”, o que garantiria a possibilidade legal de se poder realizar intervenções para implantação de obras de infraestrutura no percurso e no complexo, as demais áreas seriam “Áreas de proteção”. A área de tombamento seria retirada já que o Bem Tombado não se encontra no município. Essa proposta garante a preservação do ecossistema local e possibilita a criação de equipamentos e gentilezas urbanas aos usuários.”
Mas, e aí? Com essa solução qual seria o próximo passo? Pelo que você está nos mostrando o projeto é muito bacana e precisa ser incentivado!
“Após a proposta da nova solução urbanística se deu início a parte projetual que abrange o Complexo e sua trilha, de aproximadamente 2,2 km. Foram definidos três acessos, a partir deles, suas respectivas tipologias de fluxo e usuários, e a implantação de alguns equipamentos dentre eles: estacionamentos, administrativo e recepção, lanchonete e restaurante, pousada, camping e mirante.”
“A implantação desses equipamentos foi pensada visando: a qualificação dos espaços já explorados com suas respectivas utilizações, respeitar os usuários existentes, garantir a utilização dos espaços por novas e amplas tipologias de usuários, acolher respeitosamente a paisagem natural aos objetos arquitetônicos e consequentemente preservar o máximo possível da topografia existente, tornando o usuário mais pertencente ao entorno, aproximando-o e conectando-o com a natureza.”
Muito legal o seu conceito inicial do projeto Maione! Vamos conhecer então os equipamentos?
“O primeiro equipamento é o estacionamento seguido da administração e recepção, localizados no principal acesso, através do município de Igarapé. O amplo estacionamento tem o intuito de permitir a abertura confortável dos veículos com segurança, já os mesmos não poderão utilizar a trilha, valorizando a caminhabilidade, o pedestre.”
“Próximo à administração temos a primeira estação do funicular (uma espécie de bonde que se movimenta sobre trilhos e é movido por cabos), um meio de transporte que vai garantir acessibilidade a portadores de necessidades especiais em qualquer equipamento do Complexo, lembrando que é uma região serrana, ou seja, de topografia acidentada.”
“Seguindo a trilha chegamos até a lanchonete e restaurante. O Bloco foi implantado visando o aproveitamento máximo da topografia. O declive foi explorado para garantir uma visada ampla para o horizonte durante as refeições.”
“O nível de acesso que conta com uma circulação vertical, recepção e amplo telhado verde, proporciona um novo ponto de observação e contemplação. A lanchonete e o restaurante contam assim, com grandes aberturas para proporcionar a contemplação.”
“Continuando o percurso chegamos até a pousada, composta por uma área comum, ou seja, espaços de convívio e lazer, além das áreas de serviço e apoio técnico. Os dormitórios são compostos por chalés, sendo 4 (quatro) tipologias, sendo elas: para casais, para famílias e as duas versões para portadores de necessidades especiais.”
“A implantação mais uma vez foi pensada em agredir o mínimo possível do terreno natural e também proporcionar espaços de contemplação. O que determinou também a tipologia de implantação dos chalés, onde um não obstrui a vista do outro e sim ampliam a área privativa, garantindo mais espaços com conexão com o verde.”
“Após a pousada temos o camping e estacionamento para receber os veículos que vêm através de Itatiaiuçu.”
“O camping conta com estrutura para 36 barracas. Para o apoio dos usuários temos um bloco com instalações sanitárias feminino e masculino, cozinha comunitária, área de serviço, administração e 5 (cinco) quiosques para refeições externas. Espaços que garantem integração e privacidade ao mesmo tempo, além do contato com a natureza sem perder o conforto e a segurança.”
“Por último e mais importante o mirante, amplo espaço multifuncional que reúne todos os usuários de forma igualitária.”
“O mesmo foi divido em 4 (quatro) níveis, todos acessíveis a portadores de necessidades especiais. A primeira parte tem acesso direto à trilha, e abriga dois volumes. Um está inserido abaixo do último nível do mirante, e comtempla a última estação do funicular, as instalações sanitárias e a área de serviço. O segundo é a capela, uma estrutura metálica vazada, que visa abrigar uma atividade frequente no local, as missas campais, sem obstruir a paisagem e sim emoldurar mais a vista da paisagem.”
Maione, você pensou em tudo mesmo hein? Notamos que você teve um cuidado e um carinho especial em cada pequeno detalhe do projeto!
“No último nível do mirante foi proposta a instalação de dois pergolados que garantem meia sombra em horários que o sol está a pino. Essa tipologia de implantação foi pensada a fim de garantir uma visão 360º, com infinitas possibilidades de observação, o que permite a contemplação e contato com a natureza.”
“Toda a proposta baseaia-se na crença de que a cidade tem como dever ofertar qualidade de vida, não só através de infraestrutura básica como saúde, educação e segurança, mas também lazer. Ou seja, espaços que estimulam a caminhabilidade, a convivência e a contemplação.”
“Todas essas características reforçam aos cidadãos a sensação de pertencimento à cidade, ou seja, estimula o cidadão a compreender que devemos explorá-la com consciência, assim como temos o dever de preservá-la e melhorá-la.”
“A soma de uma legislação compatível, uma infraestrutura de qualidade e espaços multifuncionais estimula e garante uso o permanente dos espaços, consequentemente os próprios usuários se tornam os guardiões dos mesmos.”
Puxa vida, que bacana Maione. Quem sabe com a divulgação do seu trabalho em nosso site, o município possa se interessar em materializar sua proposta através de uma parceria com alguma empresa, quem sabe uma das mineradoras que atuam no local. Seria uma ótima contrapartida social e ambiental para o município não é mesmo? Vamos torcer!
“Vamos torcer sim! Seria uma grande realização profissional para mim e um verdadeiro sonho que pode beneficiar muito a sociedade não só de Igarapé mas de toda a grande Belo Horizonte!”
Bibliografia
COSTA, Maione Amorim Oliveira de Almeida. Complexo Ecológico da Pedra Grande. Monografia Trabalho Final de Conclusão de Curso. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Itaúna. Itaúna, 2018. Disponível em: https://bitlybr.com/hc4j1. Acesso em 20/08/2019 às 14:35 h.
Fotos do Pico do Itatiaiuçu, Pedra Grande – Igarapé MG. DreamPassExperiences. [S.I]. São Paulo, 2019.
Disponível em: https://www.dreampass.com.br/experiencias/pico-do-itatiaiucu-igarape-mg. Acesso em 15/08/2019 às 17:25 h.
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