A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1948), definiu a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Portanto o conceito de saúde é bem relativo e envolve fatores endógenos (internos ao organismo) ou exógenos (externos), incluindo aqueles ligados ao meio ambiente e às condições sociais como o acesso ao saneamento básico e à educação entre outros, que podem influenciar o bem estar de um indivíduo.
Por outro lado, “doença é o conjunto de alterações orgânicas que podem ser morfológicas, fisiológicas ou funcionais que se manifestam através de sinais e sintomas alterando o estado de saúde do paciente provocando distúrbios, físicos, mentais e sociais”.
O avanço do conhecimento a respeito do DNA e do RNA, tem permitido enormes conquistas no campo da medicina, proporcionando o tratamento das mais variadas doenças, com técnicas que seriam impossíveis de serem desenvolvidas sem o progresso científico ao nível da biologia celular e molecular.
Uma dessas técnicas é a IMUNOTERAPIA aliada à VACINA de RNA. Vamos aprender juntos sobre o que é tudo isso.
Muitas vezes o organismo adoece em função do ataque de agentes patológicos que afetam o seu funcionamento normal ou em função da produção de proteínas pelo próprio organismo contendo genes que interferem no funcionamento dos processos normais de multiplicação celular, causando anomalias.
As anomalias que ocorrem no processo de divisão celular, são denominadas de câncer.
O sistema imunológico funciona monitorando todas as substâncias normalmente encontradas no corpo. Diante da presença de qualquer substância identificada como estranha, um alarme é acionado fazendo com que o sistema de defesa do organismo ataque estas células ou proteínas anormais, neutralizando-as.
O sistema imunológico pode também reconhecer algumas moléculas do organismo como “não próprias” o que pode levar ao surgimento das doenças auto imunes.
Acontece entretanto que às vezes os agentes que causam uma anomalia orgânica, como as células cancerosas por exemplo, driblam o sistema de defesa, havendo a necessidade de dar uma “mãozinha” para que o elemento “intruso” seja eliminado.
A imunoterapia consiste em uma técnica onde o próprio sistema imunológico do paciente é potencializado para reagir com mais eficácia frente a um agente agressor ou a um fator que desequilibra a atividade orgânica.
Como isso ocorre? Através de artifícios utilizando marcadores bioquímicos ou biomoleculares que bloqueiam ou eliminam os possíveis fatores que podem estar inibindo o sistema imunológico e dificultando a resposta imune ou mesmo impulsionando a atividade das células de defesa do organismo, ativando as respostas necessárias contra o agente agressor.
Atualmente a imunoterapia, tem tido aplicações expressivas em praticamente todos os campos que envolvem a busca pelo reequilíbrio das disfunções orgânicas podendo ser utilizada de forma geral ou sistêmica e de forma específica em função de um agente etiológico em particular.
Usado mais recentemente para tratamento de diversos tipos de câncer, especialmente linfomas, no tratamento imunoterápico o alvo deixa de ser diretamente o tumor. As atenções são voltadas para a modulação da resposta imune do organismo contra o tumor.
As células cancerosas são reconhecidas como estranhas por que codificam proteínas diferentes daquelas produzidas pelas células normais.
A imunomodulação consiste basicamente na regulação do sistema imunológico para potencializar a capacidade do corpo de enfrentar a doença.
A imunoterapia atua marcando as células cancerígenas ou outras células infectadas, a fim de que células específicas do sistema imunológico sejam atraídas para o local afetado ou utilizando estratégias que aumentam a capacidade do sistema imunológico do corpo em combatê-las.
A terapia celular T-CAR é o procedimento que envolve o uso de células T alteradas para combater células cancerígenas e outras moléculas infectantes.
A terapia consiste essencialmente em modificar geneticamente células T para torná-las mais eficazes no combate ao câncer.
Esta forma de terapia celular é normalmente indicada para aqueles pacientes que não mais respondem a nenhuma outra forma de tratamento. Mas em breve poderão ser aplicadas a todos os pacientes oncológicos.
As células T são um tipo de célula do sistema imunológico que são alteradas em laboratório para reconhecer e promover um ataque específico às células cancerígenas ou tumorais.
Vídeo: entenda a terapia CAR-T Cells, que reprograma as células do paciente contra a doença.
O linfócito T é um tipo de leucócito (glóbulo branco), que é um dos principais responsáveis pela defesa do organismo graças à sua capacidade de reconhecer antígenos existentes na superfície celular de agentes infecciosos ou de tumores e desencadear a produção de anticorpos ou a atividade de células imunes que destruam as moléculas danosas.
O termo CAR refere-se a um receptor de antígeno quimérico do inglês chimeric antigen receptor.
As próprias células T do paciente são usadas para produzir as células T-CAR.
Para tanto, as células T são coletadas do sangue do paciente usando um procedimento denominado leucoferese. Com auxílio de um vetor viral, um novo gene é introduzido no linfócito T extraído do sangue coletado do paciente .
Um VETOR VIRAL é um vírus cujo material genético é alterado em laboratório carregando um gene específico.
O novo gene contém a informação que permite ao linfócito T codificar e apresentar em sua superfície, uma proteína específica, o receptor de antígeno quimérico ou CAR, capaz de reconhecer a molécula anormal que provoca o câncer a ser combatido, direcionando as células T modificadas para atingir e destruir estas células malignas.
As células T modificadas são inseridas de volta no paciente através do processo denominado infusão onde agem reprogramando as próprias células do doente contra a enfermidade
Antes da infusão, o paciente muitas vezes precisa receber tratamento quimioterápico para ajudar a diminuir o número de outras células do seu sistema imune, a fim de que as células T CAR tenham mais eficácia no combate ao câncer.
Quando as células T-CAR começam a se ligar às células cancerígenas, elas aumentam em número e aniquilam ainda mais células malignas.
A técnica de imunoterapia celular rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 2018 para o norte-americano James Allison e para o japonês Tasuku Honjo, os dois pioneiros nos estudos desse procedimento.
Como diferentes tipos de câncer têm diferentes antígenos, cada T-CAR é feito para um antígeno específico.
A terapia de células T-CAR, feita com células de defesa reprogramadas do próprio paciente, foi testada pela primeira vez na América Latina por cientistas do Centro de Terapia Celular (CTC) da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela Fapesp.
Vários tipos de câncer já foram tratados com sucesso com a tecnologia de células T modificadas geneticamente T-CAR.
Porém em alguns tipos de tumores sólidos como o do câncer de cólon e outros, determinados obstáculos técnicos limitaram a eficácia do procedimento.
Um desses obstáculos é a Claudina-6, uma proteína presente em algumas células tumorais que não é facilmente identificada e combatida pelo sistema imune do doente. Então, cientistas da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, na Alemanha criaram células T modificadas adicionando a elas sensores desta proteína, formando células T-Car com sensores para a Claudina-6.
Certamente existirão para diferentes tipos de câncer, essas proteínas “entrincheiradas” que o sistema imune não consegue combater por sí só sem uma ajudinha ainda maior da ciência.
Mas a fim de expandir ainda mais a versatilidade do tratamento imunoterápico com Células T-CAR, em casos específicos como esse, os cientistas injetaram em camundongos uma dose de RNA Codificador da Claudina-6, encontrada em muitas células anormais sólidas como ocorre com os cânceres de pulmão, ovários e cólon nos animais implantados com esses tumores.
A chamada Vacina de RNA estimulou a produção da Claudina-6 fazendo com que as células T-CAR se multiplicassem ainda mais destruindo esses tumores mais “resistentes” com maior eficácia .
Isso mostra como a ciência avança sempre, conforme novas possibilidades tecnológicas vão descortinando o conhecimento permitindo que novas evidências sejam descobertas e testadas.
Bibliografia
NATURE. Supercharged immune cells shrink tumours with RNA vaccine’s help. A Nature Research Journal, [S.I]. 2020.
Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-019-03965-8. Acesso em 10/01/2020 às 16:35 h.
BOCCHINI, Bruno. Tratamento de médicos da USP faz desaparecer células de linfoma. Agência Brasil – EBC [S.I]. São Paulo, 2019.
Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2019-10/tratamento-de-medicos-da-usp-fez-desaparecer-celulas-de-linfoma. Acesso em 10/01/2020 às 17:50 h.
FREITAS, Andrea Cunha. O que são células CAR-T?. Público, [S.I]. 2019.
Disponível em: https://www.publico.pt/2019/06/09/ciencia/perguntaserespostas/sao-celulas-tcar-1875762. Acesso em 10/01/2020 às 19:25 h.
ACS Medical Content and News Staff. Terapia com células T do carro e seus efeitos colaterais. American Cancer Society, [S.I]. USA, 2019.
Disponível em: http://www.cancer.org/treatment/treatments-and-side-effects/treatment-types/immunotherapy/car-t-cell1.html#written_by. Acesso em 10/01/2020 às 21:00 h.
* Encontrou algum equívoco? Reporte-nos! *